Insegurança na hora de amamentar: quem nunca sentiu, que atire a primeira pedra!

 

Hoje resolvi partilhar com vocês minha história pessoal de superação e espero que ela sirva de inspiração a muitas mulheres…

Todos que me acompanham pelas redes sociais ou que convivem comigo sabem como defendo e incentivo a amamentação. Eu trabalho com isso, então não poderia ser diferente. Mas poucos sabem que passei por momentos difíceis. E que em momentos difíceis qualquer um pode sucumbir.

Amamentei Alice, minha filha mais velha, por 7 meses. Por falta de conhecimento à época, embora a tenha amamentado exclusivamente até o sexto mês, comecei a fazer uso da fórmula láctea assim que comecei a introdução alimentar, por achar que meu leite já não era suficiente e que ela poderia ficar com fome caso eu não pudesse sair para amamentá-la durante o trabalho. Logicamente que em pouco tempo ela já não queria mais saber do seio…

Logo após seu desmame, por conta de um concurso público, comecei a estudar sobre o aleitamento materno. Quanto mais eu lia, mais me encantava pelo assunto e mais vontade tinha de saber. Nessa época, comecei a participar de grupos de apoio à amamentação e estudava insanamente, além de vivenciar aquilo diariamente, uma vez que trabalhava (e ainda trabalho) em uma maternidade pública que incentivava a amamentação.

Quando engravidei da Olívia tinha pra mim que faria tudo diferente. Mal sabia o que estava por vir. Com 28 semanas descobrimos que ela tinha uma má-formação renal e, desde então, sentimentos dos mais variados perpassaram nossos corações ao longo da gestação.
Olívia nasceu. Assim como Alice e como mamíferos que somos, abocanhou o seio e mandou ver! Aleitamento em livre demanda a todo vapor. Depois de alguns dias veio a apojadura (descida do leite) e junto com ela o ingurgitamento mamário. Por mais que soubesse o que fazer, em alguns momentos o cansaço me vencia. Muitas vezes não conseguia fazer uma ordenha de alivio e, em uma mama ingurgitada, não existe pega correta, porque simplesmente o bebê não consegue abocanhar a mama como deveria. Por conta disso, em determinado momento tive fissuras. Uiiii! Não gosto nem de lembrar… Amamentava chorando, ordenhava chorando… E por mais que soubesse que aquilo tudo poderia acontecer e que tinha solução, que ia passar, eu ainda chorava. Coisas do puerpério, né gente?! Chorava porque estava fragilizada, chorava porque tinha dor e chorava por não me conformar por estar passando por aquilo, afinal, eu tinha conhecimento técnico sobre o assunto. E é nesse ponto que eu quero chegar.
De nada adianta todo conhecimento do mundo, se a gente que amamenta não tem apoio, ajuda, incentivo. Precisamos de nossos maridos, de nossas mães, sogras, irmãs, amigas (pediatras e obstetras INCLUSIVE) AO NOSSO LADO. Bom, felizmente, no que diz respeito a isso, posso dizer que fui felizarda. Mas sei que tantas outras mulheres não o são e, desistem. E isso me entristece.
Passadas as duas primeiras semanas, depois de resolvidas essas questões iniciais,  achei que as coisas entrariam nos eixos. Tudo corria bem, até que com 30 dias Olívia começou a recusar o seio. Acho que ninguém pode imaginar o que significa, na cabeça de uma mãe (no auge do puerpério), essa situação. Eu não entendia o pq, afinal, aquele era o melhor lugar onde ela poderia estar. Peito é calor, é alimento, é amor, é vida. Eu simplesmente não entendia. No dia seguinte, além das piores crises de choro que eu vi um bebê ter na vida, ela teve febre. Aí, não tive dúvidas, tinha alguma coisa errada. Ligamos para a pediatra que nos recomendou irmos ao Pronto Socorro, afinal, a má-formação estava lá e até então era uma ilustre desconhecida, pois não sabíamos como seria o desenrolar desse problema de saúde.
Exame de urina.
Exame de sangue.
Angústia.
Resultados alterados.
Muito alterados.
Internação.

É engraçado que trabalho em hospital, passo horas seguidas vendo bebês, crianças, além de conversar com muitas mães, mas não fazia a MENOR idéia de como era estar do outro lado. Você ver seu bebê, sua cria, sendo manipulada, picada, sondada… E pra completar, recusando a única coisa que poderia confortá-la: O PEITO.

Eu era só uma mãe que queria amamentar seu bebê doente, e não conseguia. 

Vocês não podem imaginar como isso era frustrante, ainda mais pra mim. E nessas horas, volto a dizer, a gente precisa de apoio e precisa, acima de tudo, confiar na natureza. Tempos depois fui entender que, a infecção provocava essa inapetência alimentar, ou seja, ela não estava recusando o seio, mas o fato era que a infecção fazia ela não querer se alimentar. A medida que a infecção foi sendo tratada e o quadro dela foi melhorando, ela voltou a aceitar o seio novamente. Ufa! Mas até isso acontecer, tudo o que vocês podem imaginar passou pela minha cabeça.

Uma coisa curiosa que percebi durante a internação (e triste também) é que todo mundo da equipe que em algum momento esteve com a gente ficava bastante surpreso quando eu dizia que ela SÓ mamava no peito. Aliás, acho que tanto não se conformavam que insistiam em mandar mamadeiras e mamadeiras de fórmulas apesar de toda vez eu reiteirar a informação de que da mesma maneira que a mamadeira chegava, ela ia embora, que era um desperdício e que aquilo era um equívoco do serviço de Nutrição. Confesso que numa das minhas crises existenciais (de recusa do peito), cheguei a pegar uma dessas mamadeiras e oferecer a ela pra tirar “a prova”. Ponto pra mim (e pro tetê), ela também não quis a mamadeira (ufa de novo!!!).
Agora vejam como essa é uma situação delicada. Mesmo entendendo do assunto, mesmo sendo da área da saúde, mesmo trabalhando com isso, mesmo acreditando no aleitamento, a gente sucumbe e, por algum momento, deixa de acreditar no nosso poder e capacidade de nutriz.
Uma outra questão que me preocupava era: a nossa produção de leite está absolutamente relacionada a sucção do bebê, ou seja, quanto mais o bebê mama, mais leite a gente produz. E a Olívia não mamava…. e é nessa hora que eu digo que também devemos confiar na natureza. Quando ela voltou a mamar, minha produção de leite foi aumentando progressivamente até voltar ao normal. Ponto pro aleitamento, ponto pra Natureza!
Depois de alguns dias de internação, intercorrências, intervenções e muita apreensão, fomos pra casa. Era véspera de Natal e vocês não imaginam nossa alegria em ter nossa Olívia, nossa pequena Olívia em casa, junto da família. O Natal passou, o Reveillon passou. E nessa confusão de ora mamar bastante, ora mamar pouco, outro ingurgitamento mamário. Dor, febre, vontade de desistir. Não, eu não podia, porque ela, mais do que ninguém, precisava daquele leite, precisava de todos os anticorpos possíveis, precisava ser forte pra encarar tudo aquilo. Além de muito amor, ela precisava de leite materno. E sem olhar pra trás eu segui com minha convicção de que aquilo valeria a pena. E valeu. Mas digo, depois de tudo que passamos, eu e ela, que essa não foi uma vitória só nossa. Depois de Olivia passar por inúmeras infecções e duas cirurgias, e eu ingurgitamento, fissuras, baixa produção e tudo mais, sou grata a todos que me apoiaram e me ajudaram em todo esse processo. Eu acreditei e tenho certeza de que somos todas capazes de amamentar nossos filhos, salvo raríssimas exceções. Pra você que vai amamentar ou está amamentando, meu conselho é, acredite e não tenha medo de pedir ajuda. Confie em você!

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