Osteopatia em Pediatria

Dr. Rafael Corrêa – Fisioterapeuta e Osteopata DO

Você sabia que muitas das situações que causam enormes dores de cabeça para as mães de bebês e crianças pode receber grande auxílio da Osteopatia?  Uma abordagem terapêutica natural e eficiente, que ainda é pouco conhecida em nosso país, pode se tornar uma aliada importante para os pais, pediatras e todos os profissionais que atuam na área da pediatria.

Antes de falarmos sobre as possibilidades de atuação da Osteopatia na esfera da pediatria é importante esclarecermos, pelo menos de forma simplificada e rápida, o que é e quais os principais conceitos da Osteopatia pois, em realidade, os princípios da Osteopatia são os mesmos independente da idade de quem está sendo tratado.

A Osteopatia surgiu nos EUA em 1874 resultante das vivencias do médico Dr. Andrew Taylor Still o qual se deparou, ao longo de sua vida, com inúmeras situações onde a medicina clássica de sua época se mostrava limitada e muitas vezes ineficiente. Desta forma, Dr. Still inicia uma longa jornada de estudos aprofundados na anatomia, mecânica e fisiologia do corpo humano e desenvolve sua maneira única de diagnosticar e tratar com as mãos, a qual batizou de Osteopatia.

Todo tratamento de Osteopatia está baseado em princípios fundamentais que possibilitam, ao profissional especializado nesta área, um entendimento profundo do corpo humano permitindo o trabalho voltado à resolução das reais causas do problema apresentado pelos pacientes. Listaremos abaixo três dos principais princípios osteopáticos:

1 – ESTRURURA E FUNÇÃO ESTÃO INTIMAMENTE LIGADAS: Podemos chamar de estrutura qualquer parte do corpo que desempenhe funções especificas como, por exemplo, um osso que servirá de ponto fixo para musculatura, também será parte de uma articulação ou mesmo ajudará na produção de células sanguíneas (medula óssea); ou ainda um órgão como o coração, que desempenha papel indispensável na circulação sanguínea. O fato é que cada estrutura do corpo é única sendo formada especialmente para desempenhar uma ou uma série de funções especificas de forma isolada ou em conjunto com outras assim, se a estrutura estiver alterada a função da mesma estará, também, prejudicada podendo afetar sistemas muito complexos no funcionamento global do organismo.

Podemos, neste momento, citar um primeiro e simples exemplo quando nosso paciente é um bebê: Imaginem que, por consequência das grandes forças presente no processo do parto, estruturas relacionadas com o bom processo de sucção e deglutição como a mandíbula, os músculos da língua e os nervos que controlam a atividades deles (todos são “ESTRUTURAS”), tenham perdido sua livre possibilidade de movimentar-se ou sejam alvos de tensões ou compressões advindas de outras estruturas; desta forma a FUNÇÃO de todo um sistema poderá estar prejudicada e veremos, então, um bebe com dificuldades em seu processo de amamentação.

2 – O CORPO COMO UNIDADE DINÂMICA: Através deste princípio entendemos como todos os diferentes sistemas corporais trabalham em conjunto, influenciando e sofrendo influencias entre eles. A Osteopatia não segmenta um indivíduo pela parte em que ele apresenta um problema; não tratamos uma coluna, um pé, um estomago, um intestino ou um pulmão. Tratamos o organismo em sua totalidade pois há muitas conexões entre os mais variados sistemas corporais. Por exemplo: quando um nervo deixa seu local de origem para direcionar-se ao seu alvo ele pode estar sofrendo sobrecarga advinda de estruturas ao seu redor e isso poderia influenciar sua condução de informações, desta forma o alvo do nervo, seja este um órgão, um músculo ou qualquer outra estrutura, poderá desenvolver o sintoma que nosso paciente reclama. Entretanto, será na origem deste nervo que realmente estará o problema que, se eliminado, proporcionará livre função do nervo que ajudará o corpo a se restabelecer.

Exemplo que como este princípio da unidade pode ser visto na prática clínica do consultorio em pediatria é quando um bebe fratura sua clavícula durante o processo de parto. Existem musculaturas que se ancoram na clavícula que se estendem ao pescoço e para a mandíbula assim, a alteração desses musculos poderiam interferir na boa dinâmica da mandíbula do bebe durante a amamentação e, mais uma vez, teríamos um bebê com dificuldades de mamar. Outra possibilidade seria, numa gestação de gêmeos, onde os bebês estão bem apertados dentro do útero e assim, as frágeis estruturas do cranio são mais pressionadas fato que poderiam alterar as tensões das estruturas cranianas e estas sobrecarregar o nervo que ajuda na regulação do estomago (nervo Vago) e assim termos um bebê com refluxo. Pontuamos, também, que as tensões das estruturas cranianas podem sobrecarregar os nervos que controlam os musculos responsáveis pelo processo de mamar, assim, a dinâmica de amamentação pode, mais uma vez e por outro motivo, ser prejudicada no bebê.  

3 – TODO O ORGANISMO TRABALHA PARA MANTER A HOMEOSTASE: Homeostase é o termo utilizado em ciências médicas para definir o estado de equilíbrio entre as várias funções orgânicas do corpo. Na Osteopatia visamos criar melhores condições para que o corpo naturalmente possa reestabelecer suas funções e se recuperar dos mais variados estados de desequilíbrios que resultam no prejuízo da saúde. Acreditamos que se as estruturas mecânicas, neurais, vasculares e viscerais estejam livres em sua amplitude de movimento, recebam e conduzam suas informações neurais adequadamente, recebam bom aporte de sangue arterial com eficiente retorno venoso e linfático, o terreno para a boa recuperação orgânica e a manutenção de seu equilíbrio está armado e, assim, o organismo naturalmente se recuperará.

Observamos isso constantemente no consultório. Após uma sessão de estímulos, liberando as estruturas comprometidas, o corpo do bebê espontaneamente começa a trabalhar com menos sobrecarga e assim, de forma muito natural, atua com maior eficiência possibilitando melhor eficácia no processo de amamentação ou qualquer outra condição que foi tratada.

Após três importantes princípios da Osteopatia terem sido apresentados se torna importante falarmos, de forma simplificada, sobre o que um profissional desta área procura e faz no corpo de seus pequenos pacientes. O osteopata avalia seu paciente em busca de estruturas, sejam elas quais forem, que estejam apresentando alteração de mobilidade em seus movimentos naturais e fisiológicos. Tais alterações de mobilidade é denominada “Disfunção Somática” e seu diagnóstico é realizado através da palpação sobre os tecidos e estruturas corporais onde serão avaliadas alterações na textura assim como sua quantidade e qualidade de movimentos.

Quando uma estrutura corporal tem alterada sua mobilidade natural, a interação desta com os demais elementos estruturais, vasculares e neurais resultará em sobrecargas e adaptações do organismo as quais poderão promover o aparecimento dos mais variados quadros de sintomas que recebemos em nosso consultório. O intuito do tratamento osteopatico é proporcionar liberdade de movimento para todas as estruturas que se relacionam direta ou indiretamente com o quadro. Desta forma lutamos para assegurar uma melhor mecanica das estruturas, boa dinâmica dos fluidos corporais e uma livre condução neural; com o objetivo de criar melhores condições para a reação do próprio organismo, possibilitando que o reestabelecimento da saúde seja mais rápido e eficiente, resultando na melhora da qualidade de vida do bebê.

Em relação ao tratamento da Osteopatia em bebês e crianças devemos pontuar que é um pouco diferente do realizado classicamente em adultos. Este fato é necessário pois o corpo de um bebê não é a miniatura de um adulto, seus tecidos e estruturas são muito mais delicadas. Lembramos, por exemplo, que nas peças ósseas de um bebê há uma grande parte de membranas e cartilagem do que unicamente um osso “duro”. Desta forma, todo tratamento osteopatico em pediatria é realizado com a utilização de técnicas muito suaves dentro do que chamamos de Técnicas cranianas (para o tratamento da região do cranio), Técnicas viscerais (para o tratamento dos órgãos) e Técnicas estruturais (para o tratamento do sistema musculoesquelético); todas sendo utilizadas dentro de um raciocínio de tratamento global do bebe, respeitando e levando em consideração todas as correlações entre os diferentes sistemas e estruturas do corpo.

  Durante as sessões de tratamento os bebês podem ter comportamentos diferentes. Muitos ficam calmos e tranquilos podendo, eventualmente, até adormecerem durante a sessão. Outros podem chorar e, este choro, pode ser por vários motivos. Creio ser importante explicar que o tratamento não tem intuito de causar dor, mas pode causar, eventualmente, desconforto e, em alguns casos, até um desconforto importante. Frente a essa afirmação é indispensável dizer que, na grande maioria dos casos, existe sempre algo que se pode fazer durante a sessão de tratamento para podermos deixá-los mais tranquilos, como brincadeiras ou mesmo trata-los enquanto estão mamando, isso ajuda muito para que as sessões sejam bem tranquilas para maioria dos bebês.

O leque de atuação da Osteopatia em bebês e crianças é extremamente variado. Isto porque, como foi pontuado anteriormente, a metodologia osteopática não divide seus pacientes em partes independentes, mas sim, trabalha o indivíduo como um todo.  Como os tecidos do corpo do bebê são muito delicados podem sofrer a consequência de inúmeras situações tais como: sua posição dentro da própria barriga da mãe, se esta mãe tem alterações de postura, o tipo e o tempo do parto, se estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço, as posições que este bebê fica colocado após seu nascimento, se precisou ou não ficar internado, e até mesmo os cuidados do dia a dia.

Desta forma, independente de qual for a queixa do paciente pediátrico tais como o que frequentemente tratamos em nosso consultório como as dificuldades no processo de amamentação, refluxo, cólicas, constipação, torcicolo congênito ou adquirido, assimetria da cabeça (plagiocefalia), irritabilidade, dificuldade em dormir, quadros respiratórios e otorrinolaringológicos; os princípios osteopáticos estarão sempre presentes objetivando dar melhores condições ao corpo dos bebês e crianças para mais rápida recuperação.  

Neste contexto a Osteopatia vem, já ao longo de muito tempo, tornando-se grande parceira para o tratamento e manutenção da boa saúde em bebês e crianças em muitos países do mundo. O Brasil conta com profissionais da fisioterapia que são formados e especializados em Osteopatia e, uma parcela destes, atua de forma ativa junto aos bebês e crianças. Recomendamos que ao procurar um profissional desta área certifique-se de sua formação e competência.

Rafael Corrêa

Fisioterapeuta

Diplomado em Osteopatia pela Scientific European Federation of Osteopaths

Certificado em Osteopatia pele Escuela de Osteopatia de Madrid

Professor da Escuela de Osteopatia de Madrid

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